René Lalique no mercado da arte português
o prato fundo œillets
o prato fundo œillets
Consideração
Por Patrícia Ferrari 21-11-2020 Conhecido pela sua obra no campo da joalharia, René Lalique desenvolveu várias experiências em vidro na última década do século XIX, dedicando-se quase exclusivamente a esta matéria a partir de 1912 e tornando-se autor de diversas inovações técnicas. Nos inícios da década de 20, após os conturbados anos da Primeira Guerra Mundial, deu início à produção industrializada de peças de vidro na pequena vila de Wingen-sur-Moder, na Alsácia-Lorena. O modelo Œillets, aqui representado, é exemplo dessa fase de produção massificada. Criado em 1932, foi utilizado, pelo menos, até 1951 (Marcilhac, 1989). A estética Art Déco predomina neste prato, decorado com oito cravos estilizados, símbolo do amor puro. A folhagem funde-se entre si, criando um padrão geométrico e dando a esta peça o sopro da modernidade. A Natureza esteve presente na vida de Lalique desde a sua infância e acompanhou sempre a evolução da sua obra, sendo, a par com a Mulher, a principal temática das suas criações. Esta peça é ainda exemplo de um dos componentes técnicos mais conhecidos da obra do artista: o vidro opalescente. Embora Lalique não tenha sido pioneiro nesta técnica, o seu nome associou-se à mesma pela sua ligação às opalas, frequentemente utilizadas nas suas joias. Resultante de uma mistura química semelhante à do vidro incolor, mas com diferentes quantidades de fosfato de cálcio e óxido de estanho, o vidro opalescente caracteriza-se pelas tonalidades azuladas que se destacam ao toque da luz. Neste sentido, trabalhar o vidro era para Lalique uma forma de esculpir com a luz, sendo a iluminação destas peças fulcral para realçar a sua beleza e magia. Neste prato, modelado através de uma prensa, importa também destacar como os relevos foram aplicados no tardoz, criando uma maior sensação de profundidade. É possível distinguir dois níveis de saliência nos motivos representados, estando as folhas dos cravos em relevo negativo e as flores em positivo. Esta diferença nos relevos explica a acumulação de opalescência nas flores, indicando-nos que terão sido utilizadas duas misturas de vidro opalescente, uma mais concentrada do que a outra, tendo a modelação sido realizada numa única fase de prensagem, sem necessidade de recorrer a dois moldes. Salienta-se, por fim, a utilização de técnicas a frio nesta peça, nomeadamente na foscagem das flores, cuja superfície acetinada contrasta com o polimento dos restantes motivos. Este pequeno detalhe, que passa por vezes despercebido devido à sua localização no tardoz, comprova o perfecionismo e pormenor com que Lalique executava os seus vidros. A presença deste artista no mercado da arte português é escassa, mas não inexistente. A peça aqui descrita pode ser adquirida num dos reputados antiquários da Rua de São Bento, em Lisboa. * MARCILHAC Félix. (1989) R. Lalique – Catalogue Raisonné de l’Œuvre de Verre. Paris: Les Éditions de l’Amateur. - Um texto de Patrícia Ferrari 21-11-2020 |